Livro: "A Cidade Perversa: Liberalismo e Pornografia"

Estou lendo um livro de um filósofo francês, Dany-Robert Dufour. Chama-se "Cidade Perversa: Liberalismo e Pornografia". Para ele, o Capitalismo Liberal age liberando todas as pulsões humanas, explorando industrialmente a libido das pessoas. O Capitalismo hoje domina pelo prazer, escraviza pelo prazer, diz ele. É a comida gordurosa (que nosso instinto adora) em abundância oferecida pelas multinacionais (Nestlé, McDonalds, etc), são os videogames viciantes agindo sobre a nossa dopamina, as propagandas de carros e cerveja com mulheres semi-nuas agindo sobre nosso instinto de reprodução, o incentivo ao consumismo (o comprar tbm libera dopamina); o crack pra dar dopamina pro "lixo humano" produzido pelo capitalismo (escravos do prazer oferecido pelo crack); a maconha pra acalmar as classes médias; a cocaína para as elites... e a pornografia, que ao sexualizar todas as mercadorias, permite ao Capital vender explorando nossos instintos. Diz ele que Marilin Monroe foi uma criação pornô dos capitalistas pós-cride de 1929, para sexualizar de esponjas de aço até caixas de ferramentas, passando pelo cigarro. Hoje o mundo está tão pornô que a Marilin já não dá mais barato, não é mesmo?

Ele faz uma reflexão interessante: Civilização é contenção de pulsões. Se o Liberalismo está liberando todas as pulsões humanas, necessariamente desembocaremos numa sociedade perversa, porque a pulsão é egoísta. O gozo só quer se realizar, e só. Estamos, para ele, desembocando numa sociedade perversa, egoísta e pornográfica, pois a contenção das pulsões (que caracterizam a Civilização) estão cada vez menos presentes. Basta ver quantas atrizes pornôs não vemos na TV toda semana dando depoimentos sobre assuntos quaisquer, como se ser atriz pornô fosse "apenas mais uma profissão qualquer". E as casas de swing? Mostradas na TV como mais uma opção de diversão para as pessoas. Segundo o autor, há ondas de perversão, vinda das elites e da Mídia rumo às pessoas comuns, flexibilizando cada vez mais a moral destas.

E não é? A Mídia naturalizou a Carla Perez fazendo aquele pornô-soft de dançar na boquinha da garrafa todos os domingos às 16h da tarde (a TV brasileira é um crime contra as crianças...). Aquilo é um pornô, a alusão ao ato sexual é clara. Mas quem vai ter coragem de ser o chato e denunciar isso? Até porque, mesmo o denunciante será capturado pelas belas imagens da bela dançarina. Isso é a exploração pela libido, pelo instinto: muito mais eficiente do que explorar o lado racional das pessoas. Atinge qualquer um, até mesmo quem denuncia a invasão pornô na esfera pública. Pela primeira vez na História da Humanidade quem faz a revolução é o Sistema: o sistema está fazendo a revolução liberal, liberando todas as paixões, instintos e vícios das amarras dos freios morais, religiosos, jurídicos; para que tudo e todos possam ser comercializados. Quem denuncia é taxado de quadrado, careta, conservador, moralista.

Então, nessa filosofia/cultura atual de liberar todas as paixões, o indivíduo sente-se cada vez mais livre para realizar todo o seu instinto, que é egoísta (seja sua gana infinita por poder ou por utilizar-se do corpo do outro para obter prazer...). Assim, tem-se uma sociedade em que tanto a pornografia quanto a riqueza pornográfica de meia-dúzia de super-ricos, nenhuma delas são mais coibidas pela moral, pois a filosofia/cultura do Liberalismo liberou todos os vícios, todas corrupções humanas, todo o "querer ilimitado", que sempre fora reprimido pela religião, moral e filosofia (antes dos filósofos liberais começarem a inverter a metafísica ocidental, celebrando os vícios humanos). Esses vícios humanos, o Liberalismo santificou-os! (O Papa Francisco acabou de ser excomungado nos EUA ao criticar a ganância sem freios dos capitalistas... rs) O querer ilimitado é o vício, a corrupção, a perversão. O querer, limitado por algo, é a civilização. A vida civilizada ocorre quando cada um de nós coloca limites aos próprios instintos egoístas em prol de um bem-comum. Um mundo sem limites para os indivíduos (e suas pulsões egoístas) é um mundo viciado e perverso, onde o prazer de cada um (seja o prazer carnal ou o prazer em acumular riquezas infinitamente) é colocado acima bem coletivo.

PS: só pra exemplificar, a maconha é um exemplo disso, dessa perversão. O indivíduo coloca o seu prazer de fumar acima dos impactos sociais (criminalidade, tráfico, mortes) que o consumo ilegal de maconha gera. E é o Estado (o Todo) que tem de se adequar ao indivíduo (a Parte) e seu prazer, legalizando a maconha; em vez de a Parte deixar de fumar maconha enquanto o Todo não a legaliza. Eis a inversão que a cultura Liberal gerou no mundo contemporâneo: a parte é mais importante que o Todo. A tirania do prazer individual sobre o coletivo, das pessoas que só tem Direitos e acham que não tem Deveres. O Liberalismo nasce quando Mandeville diz que os vícios e a corrupção dos indivíduos gerarão a virtude pública. Isso é completamente dominante no mundo de hoje.

Pois é, o sistema econômico é capaz sim de fazer uma revolução. Como Karl Marx dizia, o capitalismo coloca tudo e todos contra sua própria filosofia de vida para conquistar mais e mais capital. Os grandes burgueses descobriram à tempos que o melhor meio de conquistar o capital é mudar todos os dogmas da sociedade, fazendo-a virar, de uma sociedade racional, para uma sociedade hedonista, que coloca todos os seus prazeres acima de qualquer bem coletivo e de qualquer pensamento não-liberal. Assim, seus produtos podem agir em cima dos instintos das pessoas mais facilmente, e como isso é natural à todos os indivíduos, tem um alcance bem maior do que agir em cima da razão. Agora quem não é liberalista ao extremo e não quer ficar sujeito à essa perversão e esses vícios da sociedade, é taxado de careta.

Muito bom Guilherme!
É verdade, hoje a revolução dos costumes não é mais algo de baixo para cima, mas é parte da lógica de funcionamento do capitalismo atual (em certo sentido sempre foi... O Marx já falava: tudo que é sólido tem se desmanchado no ar. Mas hoje essa lógica está a todo vapor). Então as grandes cidades capitalistas, tornadas perversas pelas mudanças nos costumes promovidas por ondas de perversão e pornografia que a mídia e a burguesia emanam, estimulam a liberação do perverso que habita em todos nós. E quem age como um neurótico (no sentido do Freud), respeitando a lei, inclusive as naturais (não furando o corpo com pircings, nem usando drogas) é taxado de "careta" mesmo.

É nesse contexto onde tudo aquilo que foi considerado errado de repente vira o certo, que a pornografia sai do obsceno e invade a cena.

PS: recomendo que leiam esse livro só depois do reboot rs Tem umas partes que podem ter gatilho pra algumas pessoas.

Magrão, muito obrigado por essa dica de livro. Eu sempre tive interesse e sempre desconfiei dessa manipulação.

Não rolaria um pdf desse livro amigo?

Amigos eu achei um resumo em um site

Segue link:
Outra Política
http://outrapolitica.wordpress.com/2010/05/27/a-cidade-perversa-liberalismo-e-pornografia/

É um bom resumo!

w w w (.) ocomuneiro (.) com / nr10_08_dany (.) html


Aqui nesse site, tem um bom trecho do livro

Irmãos poderiam passar o link para baixar em PDF?

Kimbemba escreveu:Irmãos poderiam passar o link para baixar em PDF?

Irmão me parece que até agora só temos esse resumo. Até mais!

Interessante a premissa do livro, Magrão.

Já adicionei à lista do "vou ler".

abraço!